Investindo em CRA: Oportunidades no Agronegócio

O agronegócio é um dos pilares da economia brasileira, responsável por uma significativa parcela do PIB e das exportações do país. Nesse contexto, o financiamento adequado do setor emerge como um fator crucial para sua sustentabilidade e crescimento. Entre os instrumentos financeiros disponíveis, temos as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), linhas de crédito e financiamento específicas para o setor e os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA).

Este último, destaca-se por oferecer uma alternativa de captação de recursos no mercado de capitais, diretamente ligada à produtividade e ao sucesso do agronegócio brasileiro.

O que são os CRAs?

Os CRAs são títulos de renda fixa, emitidos exclusivamente por Companhias Securitizadoras, cujos recursos captados são destinados ao financiamento de produtores rurais, cooperativas ou empresas do setor agropecuário. Esses títulos representam promessas de pagamento em dinheiro, sendo lastreados por recebíveis originados de negócios realizados entre produtores e suas respectivas cadeias.

Uma das principais vantagens desse tipo de investimento é isenção do imposto de renda sobre o rendimento tornando mais atrativos do que outras opções do mercado financeiro. Existem diversas possibilidades de remuneração, sendo as principais:

  1. Percentual superior a 100% do CDI, por exemplo 120%;
  2. CDI somado a uma taxa prefixada, por exemplo CDI + 3%;
  3. Inflação ou índice de preços, neste caso (IGPM, IPCA) + taxa prefixada.

Emissão de CRAs

A emissão de CRAs segue um processo rigoroso que inicia com a originação dos recebíveis. Empresas do setor agropecuário vendem seus produtos ou serviços e, em troca, recebem promessas de pagamento futuras, que podem ser cedidas a uma Companhia Securitizadora. Esta, por sua vez, estrutura a operação, transformando esses recebíveis em títulos que serão ofertados aos investidores no mercado de capitais.

  1. Seleção dos Recebíveis: É realizada uma análise criteriosa dos recebíveis a serem securitizados, considerando a qualidade do crédito dos devedores e a previsibilidade dos fluxos de caixa.
  2. Estruturação da Operação: Define-se a estrutura jurídica e financeira da emissão, incluindo a criação de séries, caso necessário, para adequar o perfil de risco-retorno às expectativas dos investidores.
  3. Registro e Oferta: Após a estruturação, a emissão é registrada junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e ofertada no mercado, podendo ser destinada ao público em geral ou a investidores qualificados, dependendo da estrutura da operação.

Classificação de Risco

A classificação de risco (rating) é um aspecto fundamental nas emissões de CRA, pois oferece uma referência sobre a qualidade creditícia da operação aos investidores. Agências de rating independentes avaliam a probabilidade de inadimplência dos recebíveis que lastreiam o CRA, considerando diversos fatores:

  1. Qualidade do Crédito dos Devedores: Histórico de pagamento e saúde financeira dos produtores rurais ou empresas que originaram os recebíveis.
  2. Diversificação dos Recebíveis: A dispersão geográfica e a variedade de produtos ou serviços podem reduzir o risco de concentração.
  3. Garantias e Reforços de Crédito: Avaliação das garantias oferecidas, como seguros, fianças ou outras formas de proteção que possam cobrir eventuais inadimplências.

Diante do exposto, então podemos concluir que tudo são flores, basta abrir a conta na corretora e sair investindo em CRAs certo?

Não é bem assim, na sequência vou expor dois casos práticos que comprovam a necessidade de ter o devido cuidado na hora de escolher esse tipo de investimento, pois um fator muito importante a ser levado em consideração é a ausência do Fundo Garantidor de Crédito (FGC).

Onde há Fumaça há Fogo

Logo no início de 2024 o mercado financeiro foi surpreendido com a notícia de que a Elisa Agro entrou com o pedido de recuperação judicial. Tal fato automaticamente acionou a cláusula de cross default (vencimento antecipado) do CRA emitido pela empresa.

Reforço nesse caso e como dito anteriormente a importância da diligência numa carteira de investimentos, o primeiro alerta começou a aparecer quando a SELIC (nossa taxa de juros básica) saiu de 2% galopando com o máximo torque em direção aos 13,75%.

O título da companhia foi emitido com a taxa de CDI + 5,50%.

Para bom entendedor, sabemos que a taxa DI acompanha muito próximo a taxa SELIC. Isso por si só expôs a fragilidade da estrutura de capital da empresa.

Além disso, quando o mercado exige um prêmio muito alto, automaticamente já podemos imaginar que o risco envolvido é maior, e vamos para um jargão muito conhecido: não há almoço grátis.

O segundo alerta foi confirmado por várias consultorias e casas de análise do setor agro: A safra na região centro-oeste foi prejudicada em função da estiagem provocada pelo el-niño. Somado a isso, temos o preço da soja no menor nível nos últimos 3 anos (preço base de 2024).

O terceiro alerta surgiu em outubro de 2023 quando a True Securitizadora convocou uma assembleia especial para adiar o pagamento do cupom de juros do CRA que aconteceria em novembro de 2023 para maio de 2024.

Se o relatado acima já era alarmante, o item 3 da pauta exigia a contratação de um agente externo especializado para o monitoramento operacional mensal da Devedora. Infelizmente o desfecho foi mais uma recuperação judicial anunciada.

Fiagros Foram Impactados

No meio desse furacão 2 Fiagros foram pegos. O primeiro é o GCRA11, com uma exposição na carteira de 8,3% de acordo com o relatório do fundo.

O que me chamou atenção é que o foco de atuação deles é em “Operações com volumes entre R$ 20 e 50 milhões que, geralmente, não estão no radar dos grandes Bancos e Fundos, aumentando o nível de spread potencial da operação.”

Novamente, vemos aqui o termo “aumentar o spread”, claro que isso gera mais retorno, mas sempre atrelado ao aumento do risco também. Para se ter ideia o yield médio da cota do fundo nos últimos 12 meses ficou em pouco mais de 18%, isso para o investidor médio torna-se mais perigoso ainda, pois muitos se guiam apenas pela métrica do dividend yield.

O segundo é o IAGR11, com exposição de 9,01% no CRA da Elisa Agro. No entanto, a situação do fundo é muito mais delicada, pois eles também estão com problemas no CRA da Agropecuária Três Irmãos da família Castilhos. A soma de apenas 3 emissores é responsável por mais de 50% do patrimônio líquido do fundo.

Cuidados Antes de Investir

Diante disso, fica novamente o alerta que é amplamente difundido, diversificar é fundamental pra proteger uma carteira de investimentos. Além disso, se o prêmio de retorno de um investimento está alto é porque o risco é igualmente proporcional. Sempre analise quem é o devedor, quais garantias ele está prestando na estruturação do CRA e qual é o cenário econômico do momento.

A prática de emissão desses títulos, aliada à avaliação criteriosa do risco, não apenas facilita o acesso a recursos essenciais para o agronegócio, mas também oferece uma alternativa de investimento com potencial de retorno atrativo. Dessa forma, o CRA fortalece o agronegócio, um setor vital para a economia do país, promovendo seu crescimento sustentável e a diversificação do portfólio dos investidores.

 

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